Pecuária de corte brasileira

Gestão e tecnologia como ferramentas de ganhos produtivos


A pecuária de corte é uma atividade que envolve a criação de ovinos, bovinos, caprinos, entre outros animais para produção de carne, couro e derivados. No Brasil, a maior produção está relacionada à criação de gado bovino. Com um rebanho total de quase 214 milhões de cabeças, nosso país está entre os 3 maiores produtores de carne bovina, exportando 25% da sua produção, segundo a ABIEC.


O crescimento da demanda por carne no mundo, as pressões ambientais e econômicas, como a necessidade de redução das emissões de carbono e dificuldades para abertura de novas áreas, o avanço da agricultura e regulamentações ambientais e sanitárias, têm levado o pecuarista a intensificar o seu negócio e estar atento às novas exigências dos consumidores cada vez mais atento à origem do produto consumido.


As fases da Pecuária de Corte: Cria, Recria e Engorda


O ciclo de produção do gado de corte bovino se inicia na cria, que vai do nascimento e desenvolvimento do bezerro até o seu desmame e, normalmente, tem duração de 6 a 8 meses. Esta fase é muito importante para os criadores, pois os bezerros precisam chegar ao desmame com o maior peso possível, geralmente entre 5,5 e 7 arrobas, e a mortalidade deve ser a menor possível.


A recria começa quando o bezerro é desmamado e termina no início da reprodução das fêmeas ou início da engorda. Assim como as outras fases, demanda muita atenção e cuidado. Esta fase dura em média 12 meses e os animais terminam com o peso entre 10 e 12 arrobas e o objetivo é explorar ao máximo o potencial genético do animal, estimular o desenvolvimento de estrutura óssea e muscular para que tenham uma boa estrutura e carcaças uniformes. Um pequeno deslize nesta fase, pode representar um grande prejuízo para o pecuarista.


Outra etapa, que é ainda mais valorizada, é a engorda ou terminação que pode ser a pasto ou em confinamento. No Brasil, geralmente engorda-se os animais a pasto, quase sem suplementação, abatendo-se animais mais velhos e com carcaças menores, embora, nos últimos anos, as pressões ambientais e a disputa de terras com agricultura têm levado este processo a se intensificar. Quando terminados em confinamento, os bois recebem uma dieta altamente energética, resultando em um melhor acabamento de carcaça, com melhor deposição de gordura subcutânea e intramuscular. O confinamento tem duração de 80 a 90 dias e os bois saem com peso entre 16 e 18 arrobas.


A necessidade de produzir mais arrobas por hectare, em um menor espaço de tempo e com melhor qualidade, levou o produtor a procurar novas tecnologias. Entre as tecnologias já disponíveis ao pecuarista, encontramos:


Softwares de gestão de custos, o que era anotado em um caderno, vai para uma plataforma, onde o pecuarista tem as informações organizadas, de forma a facilitar a tomada de decisão. O pecuarista tem o controle individual de cada animal, o histórico de nascimentos e compras de animais, pesagens, vacinas e medicamentos, índices zootécnicos e financeiros, taxa de mortalidade e venda de animais, quantidade e formulação de rações.


Softwares de gestão de mercado, são ferramentas sofisticadas que analisam as cadeias de commodities e indicam a tendência do mercado, as regiões de compra e venda de insumos e matéria prima.


Avaliação e tipificação de carcaças bovinas, produzir lotes de animais homogêneos e com carcaças de melhor qualidade, independente do sistema de produção.  Estes animais são classificados e comercializados em nichos que pagam mais ao produtor.


Balança de passagem instalada no pasto, em pontos estratégicos com água e cocho para o animal passar e ser pesado, sem stress e sem necessidade de mão de obra dedicada, reduzindo o tempo e custo da operação. Os dados podem ser acessados de dispositivos móveis ou direto no computador do escritório.


Câmera 3D para pesagem do gado, o boi passa na frente da câmera, que captura as imagens, faz a projeção em 3D do animal e apresenta o seu peso. A boiada é pesada sem stress, sem necessidade de deslocamento dos animais e de mão de obra, o pecuarista acompanha melhor o seu plantel, podendo detectar doenças, baixo ganho de peso, estimar o valor do rebanho e até identificar o melhor ponto para abate.


Aplicativos para controle de custos, controle financeiro, simulação de cenários.


Imagens de satélite, que mostram a disponibilidade de pasto em um piquete, suas necessidades e presença de plantas daninhas. A partir dos dados, é possível ajustar a suplementação animal, preparar o planejamento forrageiro, rotação de pastos e monitorar o desenvolvimento, histórico e estado fisiológico dos pastos.


Animais transgênicos com genoma editado no Brasil, já é possível produzir um animal com algumas características desejáveis, como resistência a determinadas doenças, um animal adaptado a certas condições climáticas.


Estas tecnologias já estão disponíveis, cabe ao produtor escolher qual ou quais adotar. Para muitas, é preciso investir tempo, treinamento e capital, por isto é muito importante o planejamento.


A pecuária e a agricultura estão cada vez mais tecnificadas e, consequentemente, aumentam a demanda por investimento e gestão. Isto significa melhorar a gestão das atividades dentro da porteira, aumentando a eficiência de uso dos recursos (matéria prima, insumos, terra, etc.). E da gestão fora da porteira, melhorando o processo de comercialização com ferramentas de gestão e análise de mercado.


Estude o atual cenário do seu negócio, levante os problemas e oportunidades, quais são as consequências ao não corrigir os problemas e quais mudanças são necessárias no momento. Quais são suas prioridades?


A tecnologia pode trazer redução de custos, ganho em produtividade, praticidade, eficiência, competitividade, maior receita.  É a tendência do agronegócio em adotar as novas tecnologias para produzir mais, em menos tempo, com menor área e melhor qualidade, e isso é fundamental para a continuidade do negócio. É preciso utilizar a tecnologia certa para coletar e organizar os dados, para que gerem informações que possam ser utilizadas e agreguem na tomada de decisão.


É uma transformação primordial para o crescimento, continuidade e rentabilidade do negócio de forma sustentável.


Autora: Tereza Cristina Pessina é Engenheira Agrônoma – ESALQ/USP, com MBA pela FGV e Capacitação em Gerenciamento de Projetos pela – Unicamp. É diretora financeira da Agromove, startup que tem uma ferramenta capaz de prever a Tendência dos Preços e a Probabilidade de Queda ou de Alta da Arroba do Boi, do Bezerro, do Milho e da Soja.